Cara Soraia, fico feliz que alguém não diretamente ligado àrea de medicina apresente uma análise tão completa e abrangente deste tema. Sou professor de Medicina há 20 anos. Lecionei na UnB, Mount Sinai School of Medicine e atualmente na UEL. Fui um dos primeiros a apoiar a criação do PBL e fiquei muito feliz com o pioneirismo e a coragem dos professores da UEL. No entanto como você observou o método ficou precocemente velho. A UEL ficou conhecida em todo o Brasil quando pioneiramente, implantou o PBL. Infelizmente ficou mundialmente conhecida quando alguns egressos do curso de medicina demonstraram como NÃO aprenderam a respeitar o próximo. A história do PBL no curso de medicina da UEL é rica tanto pelo avanço que trouxe, como pela estagnação em que agora está atolado.
Antes do PBL, os egressos do curso de medicina da UEL já gozavam de uma excelente reputação. Ser formado por esta ESCOLA DE MEDICINA era sinônimo de qualidade profissional e assegurava admiração e respeito da comunidade a que servia. Os alunos entravam jovens e na maioria das vezes, imaturos. Rapidamente adquiriam conhecimento e principalmente uma compreensão profunda dos problemas da população a que serviam. Amadureciam no pé e daqui saiam para atuar como pessoas humanas mais completas e boas.
Será que dá para dizer o mesmo de todos os egressos do PBL?
Todos os professores do curso de medicina aprenderam sua arte com seus os professores que vieram antes deles. Há 10 anos PBL.
Só para lembrar os fatos: o boicote dos alunos à avaliação de cursos que colocou o curso de Medicina em uma posição de ser até fechado e o pior, o lamentável episódio da invasão do pronto socorro, manchou para sempre a história da nossa querida ESCOLA. Não preciso recontar os acontecimentos, só lamentar.
Nos dois casos ficou implícito o total desrespeito de alguns egressos à verdadeira tradição da nossa escola. Agiram de modo egoísta e imaturo. O amadurecimento não veio. O que aconteceu? O curso de medicina que sempre foi duro e difícil e por isso mesmo, sempre temperou a alma com a satisfação do trabalho bem feito e da coragem, se tornou de certo modo mole e complacente.
Uns poucos alunos extremamente inteligentes e descaminhados, acabaram por ocupar o papel de modelo negado aos PROFESSORES pela atual dinâmica do PBL.
A ausência do ícone doce e singular do PROFESSOR como alguém importante e exemplar, deu lugar à figura emasculada do TUTOR, um ente sem voz, sem ação, sem história e sem moral para mudar as coisas feias que testemunha.
Entregou-se a horta aos cuidados dos bodes. O resultado é um ciclo interminável de alunos que acham que tem todos os direitos e nenhuma responsabilidade.
Sinceramente cansei do meu papel de poste. Não foi para ser ignorado e humilhado que me esforcei tanto. Não quero mais ser operário nesta Fábrica de Monstrinhos em que o nosso curso de Medicina está se transformando.
Monstrinhos que não respeitam seus professores, sua escola, seus pacientes, sua excelsa arte.
Monstrinhos arrogantes que acham que decorar os resumos mastigados e encher a boca como se fossem catedráticos do assunto, lhes confere O CONHECIMENTO.
Monstrinhos que desprezam os exemplos edificantes daqueles PROFESSORES que sacrificam conforto, ganhos financeiros, convívio familiar em troca da honra de servir a nossa amada ESCOLA.
O PBL precisa mudar, se aperfeiçoar, os problemas têm de ser abordados com coragem.
O paradigma foi lançado, a teoria implementada, mas até hoje não se provou que o PBL, caro e complicado, forma médicos melhores, mais humanos, mais preparados. Por enquanto, só mais arrogantes.
Carlos Miranda
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