segunda-feira, 10 de agosto de 2009

UM BRASILEIRO EM PROL DA EDUCAÇÃO


Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque, nasceu em Recife no dia 20 de fevereiro de 1944. Graduado em engenharia pela Universidade Federal de Pernambuco em 1966, envolveu-se na mesma época com a política estudantil, tendo sido militante da Ação Popular, um grupo ligado à Igreja Progressista de Esquerda.

Após o golpe militar de 1964, devido às perseguições da ditadura, seguiu para o auto exílio na França. Em Paris iniciou doutorado em Economia pela Universidade de Sorbonne, concluindo-o no ano de 1973.

Trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de 1973 a 1979, tendo ocupado postos no Equador, em Honduras e nos Estados Unidos.

Foi o primeiro reitor da Universidade de Brasília (UNB) eleito pelo voto direto, após a ditadura militar.

Governador do Distrito Federal, Ministro da Educação e atualmente é senador pelo PDT, tendo sido eleito em 2002 com 674.086 votos, ou seja, 30% dos válidos no Distrito Federal.

Em 2006 foi candidato à presidência da República pelo seu partido, o PDT, tendo o falecido senador amazonense Jefferson Perez, também do PDT como seu vice, na chamada ‘chapa pura’.

Cristovam Buarque foi consultor de diversos organismos nacionais e internacionais como re ainda, o Conselho da Universidade para a Paz da ONU e participou da Comissão Presidencial para a Alimentação, dirigida por sociólogo Herbert de Souza. Buarque também é membro do Instituto de Educação da Unesco.

Criou a ONG Missão Criança, que patrocina um programa de bolsa-escola para mais de mil famílias, com recursos oriundos da iniciativa privada.

Foi agraciado com o Prêmio Jabuti de Literatura de 1995, na categoria Ciências Humanas. A intenção de promover uma "revolução pela educação" é uma idéia que segue a linha de pensamento de importantes intelectuais brasileiros, como Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire.

O Senador é escrito, com mais de 22 títulos publicados, sobre os mais diversos temas como história, economia, sociologia e principalmente o seu grande amor, a educação. Seus livros mais famosos são: Desordem e Progresso, A Revolução das Prioridades, O Semeador de Utopias, A Borboleta Azul e Astrícia (romance de 1984).

Nesta semana iremos saber o que pensa e como vê o Brasil, o marido, o pai que tem duas filhas, o homem, o cidadão brasileiro acima de tudo.

Com a palavra Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque:


O Senador está colhendo assinaturas para um projeto de lei que quer obrigar os políticos brasileiros a matricular seus filhos na escola publica. O que pretende exatamente com esta iniciativa?

Buarque. Três coisas: fazer em 2009 o que o Brasil não fez em 1889, construir uma República. Porque não é República um país que tem escola para os filhos da elite política diferente da escola dos filhos do povo; segundo, aproximar os políticos do povo ao longo do mandato, fazendo políticos participarem de reuniões de pais e mestres, com gente do povo; terceiro, melhorar a escola pública.


Da época que o senhor esteve à frente do Ministério da Educação até hoje, os investimentos melhoraram, pioraram, ou mantiveram-se os mesmos?

Buarque. Melhoraram como tudo no Brasil sempre melhora...aos poucos. Mas ainda é muito pouco, vergonhosamente pouco. Se tirarmos o que se gasta com universidade, escola técnica e outros gastos, o que ficaria apenas R$ 1.500 por aluno por ano. Mesmo assim, não estamos hoje piores do que há 20 anos, mas ainda estamos ficando para trás, porque aumentaram muito mais as exigências de educação, no mundo de hoje, e os demais países que eram iguais estão hoje na nossa frente, porque avançaram mais.


Para o senador qual seria o percentual ideal do orçamento da União para ser investidos nos programas de educação, cultura e esporte no país?

Buarque. O importante é definir o que queremos para a escola, depois quanto custa. É preciso insistir numa carreira nacional do professor e em um programa federal de qualidade educacional. A carreira, com salário médio de R$ 4 mil por mês para o professor, com todos os equipamentos necessários levará um prazo de 20 anos para ser implantada em todo o país, um pouco mais do que os mandatos de Fernando Henrique Cardoso e Lula somados. De imediato, bastariam R$ 7 bilhões por ano para fazer esta revolução em 250 cidades de porte médio. Isto equivale a menos de 1% da renda do setor público, menos de 0,3% da renda nacional.


Como o Senador está vendo a interferência do Planalto nesta crise do Senado Federal?

Buarque. Com vergonha da fragilidade de nossa República que não consegue ter o equilíbrio entre os três poderes.


A insistência do presidente Lula em manter o Sarney à frente do comando do Senado, não agrava ainda mais a crise institucional da Casa?

Buarque. Certamente. Não basta a saída do Sarney, mas sem ela, a nossa credibilidade não voltará.


Está crise do Senado Federal nada mais é que a exposição ao publico de antigas praticas da Casa. Na sua opinião, já que a crise ética é velha, porque nenhuma atitude foi tomada pra que os erros fossem reparados antes que eclodisse em um escândalo Nacional?

Buarque. Porque os senadores não dedicam tempo à administração do Senado. Entregamos aos poucos que compõem a Mesa Diretora, e estes entregam à servidores de carreira. E tudo “corria bem” nos benefícios que recebiam. Felizmente, descobriu-se tudo. Agora falta consertar.


O que é preciso fazer pra que de fato se recupere a imagem devastada do Senado perante o povo brasileiro?

Buarque. É preciso mais do que apenas retórica para recuperar não só a imagem, mas a reputação do Congresso Nacional. Por isso, elaborei algumas propostas que, a meu ver, são essenciais para se fazer uma reforma política efetiva, que são: Proibição de reeleição para os cargos executivos e reeleição por mais de uma vez para parlamentares; Redução do mandato do Senador para quatro anos; Fim do Suplente de Senador; Substituição do Senador apenas no caso de cassação, morte ou renúncia, com escolha de substituto pela Assembléia Legislativa; Redução do número de Senadores para dois por Estado, eleitos individualmente entre o primeiro e o segundo mais votados; Perda do mandato para o parlamentar que optar por ocupar cargo no executivo; Definição do período de férias parlamentar entre 20/12 e 20/01 e divisão do ano parlamentar em período de três semanas plenas de sessões ordinária e uma semana seguinte sem sessão ordinária para liberar o senador ao trabalho em sua base eleitoral; Eliminar possibilidade de Janela para mandato por mudança de partido, mantendo-se a perda do mandato; Fidelidade do partido ao cumprimento dos compromissos assumidos em campanha; Fim de todo benefício privado ao parlamentar, externo aos salários; Reajuste de salário de parlamentar jamais poderá exceder a metade do reajuste dado aos servidores públicos das áreas fins de saúde, educação, segurança na respectiva unidade federativa; Formação de gabinete apenas com servidores de carreira ou militante sem remuneração com recursos públicos; Da mesma forma que a justiça Eleitoral, as campanhas eleitorais serão financiadas exclusivamente com recursos públicos; Cassação de todo o eleito que tenha usado qualquer outra fonte de financiamento que não seja pública; Considera-se quebra de decoro o uso por agente público eleito, de serviços privados de saúde e educação; As declarações de renda de todos os agentes públicos eleitos serão submetidos à analise da “malha fina” na Receita Federal; e o mais importante, o parlamentar que houver renunciado ao mandato fica impedido de disputar qualquer eleição seguinte àquela a que renunciou.


O Senador tem esperança que o país encontre o rumo da ética e moralidade de suas instituições?

Buarque. Sim, mas isso só vai correr quando fizermos uma revolução na educação.


Qual é o melhor projeto de Nação para o cidadão Cristovam Buarque?

Buarque. Todas as crianças em escolas com a mesma qualidade dos 4 aos 18 anos. Só então, poderemos seguir no rumo certo, o do desenvolvimento sustentável.


A imprensa nacional indica o senador como um possível candidato à presidência. E o senador? Senado, Governo ou representará o PDT novamente na corrida presidencial?

Buarque. Se o PDT quiser, eu estou pronto para ser candidato a presidente da República. Fora isto, neste momento, nada mais me entusiasma salvo voltar à UNB em tempo integral.


Como o Senador vê o Brasil daqui a 30 anos?

Buarque. Se tivermos apenas aceleração como propõe o PAC, um crescimento em direção ao abismo ético, social e ecológico. Mas, se fizermos à revolução educacional, teremos uma nova potência mundial e uma nação civilizada.


(**) Obrigado Senador pela entrevista dada a Gazeta do Paraná.


Por Soraya Garcia