sábado, 17 de outubro de 2009

BBC BRASIL DIZ...


Afetados veem obra no São Francisco com esperança e apreensão

Vista aérea das obras. Foto BBC Brasil
O impacto ambiental das obras preocupa críticos
A transposição do rio São Francisco não divide apenas as opiniões de especialistas: entre as pessoas afetadas pela iniciativa, a recepção à obra vai do otimismo à apreensão.
O polêmico megaprojeto, orçado em R$ 6 bilhões, voltou ao noticiário com a visita de três dias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se encerra nesta sexta-feira.
"Eu acho muito bom o projeto, porque a gente já passou muita sede", disse à BBC Brasil Maria Lindinalva dos Santos, uma lavradora de 38 anos de Cabrobó, em Pernambuco.
Questionada se acredita que a transposição vai resolver o problema, ela é menos enfática: "Tomara que sim".
Mas Lindinalva dos Santos, que foi desapropriada pela obra e será reassentada na Vila Produtiva Rural do Junco, também em Cabrobó, disse estar preocupada com o seu futuro.
"Minha maior preocupação aqui é o trabalho. Lá (de onde foi deslocada), a gente planta cebola, milho. E Aqui? Vai viver de quê?"
Cerca de 700 famílias serão deslocadas pela obra, e o governo está construindo 16 vilas como a de Junco para recebê-las.
Cada família terá direito a uma casa com 100 metros quadrados, em uma área de 5 mil metros quadrados, além da indenização pelo valor da terra.
Críticas
Ao lado do projeto de transposição, o governo também faz obras de recuperação das margens do rio São Francisco – uma das principais reinvidicações de alguns dos críticos da transposição.
Mas, nas ruas do município de Barra, na Bahia, a reportagem da BBC Brasil, que viajou a convite do governo federal, pôde notar que os argumentos do bispo Luiz Flávio Cáppio – um dos maiores opositores da obra – têm ressonância entre a população local.
Cáppio se opõe à obra por temer prejuízo ambiental e chegou a fazer uma greve de fome contra a transposição em 2007 para pressionar às vésperas da votação pelo Supremo Tribunal Federal de uma decisão que havia embargado o projeto. O Supremo acabou derrubando o embargo.
"Eu particularmente sou contra, pelo impacto ambiental", disse à BBC Brasil Fabiola Matos Queiros, uma moradora de Barra.
"O planeta já está doente por essas mudanças", argumenta a moradora, para quem uma opção melhor para o sertão seria a perfuração de poços artesianos e a construção de cisternas.
O sociólogo Rubens Siqueira – membro da Comissão Pastoral da Terra na Bahia e um dos coordenadores da Articulação São Francisco Vivo – diz que o grupo é contra a transposição “porque o rio não aguenta e porque o projeto não respeita as verdadeiras vocações do semi-árido”.
Para o sociólogo, o modelo de desenvolvimento na região deveria privilegiar atividades já desenvolvidas pelo sertanejo e que sejam naturalmente adequadas a um meio com escassez de água.
“O governo está somente interessado em grandes obras para um ano eleitoral enquanto há projetos menores e bem mais baratos que não aparecem tanto, mas que teriam impacto muito maior na qualidade de vida das pessoas na região”, diz.
Repercussão
Vista aérea das obras no São Francico. Foto BBC Brasil
As obras podem gerar empregos nas áreas afetadas
Para o governo, porém, essas opiniões são minoritárias.
"Sempre tem pessoas que são contra. Agora, as pessoas que são contra, certamente, não conhecem a situação em que vive o povo do semiárido", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira, ao visitar obras de recuperação do rio no município baiano.
Coordenador de campo do projeto, o engenheiro Frederico de Oliveira do Ministério da Integração Regional, diz que sua percepção é de que "95% das pessoas" na área da obra são favoráveis.
Oliveira diz que, além das pessoas que seriam beneficiadas pela oferta de água quando a transposição estiver pronta, a iniciativa já produz resultado na criação de emprego.
"A repercussão da obra a gente sente aqui naturalmente com a resposta da população, com os empregos que estão sendo trazidos. Hoje aqui na obra a gente tem efetivamente 8.400 empregos diretos de trabalhadores", diz.
De fato, nas áreas próximas aos grandes canteiros de obras a reportagem da BBC Brasil pôde constatar que o apoio à transposição é grande.
Emanuel Ramalho, um motorista desempregado que foi de Belmiro Gouveia para Florestas em busca de trabalho, é um dos que dizem que a transposição é uma iniciativa positiva.
"É bom porque está rolando muito emprego. E vai ter emprego para todo mundo. Com a água, todo mundo vai plantar", disse.
Obras
De acordo com o governo, o projeto de transposição do rio São Francisco visa levar água para 12 milhões de pessoas nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
Para isso, estão sendo contruídos dois canais com largura que varia de 3,4 a 12 metros e de até seis metros de profundidade.
Um dos canais, com 287 quilômetros de extensão deverá levar água no sentido leste da barragem de Itaparica, no município de Florestas, em Pernambuco, ao rio Paraíba, no Estado de mesmo nome. O trecho tem entrega prevista para 2010.
O outro canal, com 426 quilômetros, deverá levar água no sentido norte, partindo de Cabrobó também no estado de Pernambuco até o rio Piranhas-Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte, passando pelo Ceará. O prazo previsto para a entrega deste trecho é 2012.

O PASSEIO DE DILMA ROUSSEF PELO NORDESTE NA VISÃO DE HÉLIO DUQUE


A candidata e o cordel

O cordel é uma manifestação popular da gente simples do interior do nordeste e expressa a angústia e o cotidiano vivente do seu povo. A improvisação cordelista tem raiz em uma inteligência criativa assombrosa. Tornou-se, com o tempo, vigorosa manifestação da cultura popular, extrapolando as fronteiras regionais. No Ceará, Patativa do Assaré universalizou com toques de erudição as suas notáveis criações. Na Bahia, o versejar improvisado e critico de Cuíca de Santo Amaro, por décadas, tem reedições sempre repetidas. Em Pernambuco e na Paraíba, os cordéis do Cego Aderaldo e Lourival estão presentes no cotidiano do seu povo.
A essência da criatividade cordelista é retratar os acontecimentos cotidianos da vida regional e nacional. Nada escapa. A política se faz presente nos desafios e cantorias desses autênticos trovadores. De origem rural alargou-se pelos centros urbanos e neles criou vasta rede de comunicação na gente simples e trabalhadora. Compositores consagrados abraçaram a causa de divulgar os versos e as cantadas desses anônimos poetas sertânicos. Um deles foi o compositor Fagner, que levou a novas fronteiras a trova desses cantores ambulantes. São narrações feitas no improviso por testemunhos presenciais.
Nas feiras semanais, nos encontros sem compromisso e nas praças das principais cidades, os desafios são acontecimentos que enchem de prazer e alegria a vida simples de quem assiste ao espetáculo. Atualmente, na região nordestina, os cordelistas se debruçam em trovas onde a eleição é o mote principal. Louvando muitas vezes e criticando quase sempre as administrações estaduais. São rigorosos na busca da ética da vida, combatendo com rigor o axioma de que todo mundo tem seu preço. Intelectuais populares e sem formação livresca mas doutrinados no viver, são impiedosos combatentes dos agentes públicos.
Conhecedor da força penetradora do cordel, o presidente Lula da Silva, igualmente louvado e criticado por muitos cordelistas, já deve saber da existência no Ceará de Zé Piaba. Ele compôs o “Cordel da Dilma” que vem ganhando divulgação naquela região brasileira. E já está postado na rede de comunicação moderna expressada nos milhões de computadores. Com simplicidade e linguajar direto e de fácil compreensão popular, na sua sabedoria primitiva, ousa traçar um perfil sem retoque da personalidade da candidata lulista à presidente da República.
Em certa parte da sua criação Zé Piaba é impiedoso: “A mulher, que era emburrada/ Anda agora sorridente/ Acenando para o povo/ Alegre, mostrando o dente/ E os baba-ovos gritando: É Dilma pra presidente! / Mas eu sei que o olho grande/ É na montanha de bilhões / Que Lula botou no PAC/ Pensando nas eleições/ Eu já vi um deputado / Dizendo no Cariri / Que Dilma é linda e charmosa/ Igual não existe aqui/ É capaz de ser mais bela/ Que a Angelina Jolie.

A percepção e capacidade de entender a realidade do cordelista encontram eco nos círculos profissionais que se consideram doutores em cenários políticos. Um desses é Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, que avança ao afirmar que não se fabrica mais candidatos. Ele considera que uma candidatura para ser viável, deve ter luz própria, currículo e já ter disputado eleição. No caso da ministra chefe da Casa Civil, tem opinião objetiva. Acha que a popularidade de Lula continua estável, mas a sua candidata deslocou-se dele. E mais: “Lula está tentando fabricar alguém. O PT sofreu desgaste com mensalão e aloprados. O partido perdeu a identidade, a ética e o charme. O PT mobilizava formuladores de opinião, atores, artistas, jornalistas e estudante. Tudo isso foi para o saco, acabou. Muitas pessoas de baixa renda que melhoraram de vida podem até votar no candidato de Lula por gratidão. Por isso mesmo Dilma tem 15% das intenções de voto. Sem Lula teria 1%. A rejeição de Dilma ter chegado a 40% significa que ela anda para trás.
Audacioso e desafiador, Carlos Augusto Montenegro, em nome do Ibope, afirma em entrevista a “Veja”: “Digo que Lula não elege sucessor do PT.” Ao enfatizar que o eleitor tem o sentimento de que, Dilma vencendo, serão quatro anos, com as coisas ruins do PT e sem as coisas boas de Lula, comprova o divórcio entre lulismo e petismo. Entende que o partido ficou com o desgaste do poder e das trapalhadas e Lula ficou com as coisas boas. A opinião do presidente do Ibope, mesmo não tendo a infalibilidade papal, não pode ser descartada. A credibilidade e grande experiência histórica em amostragem da opinião pública estão colocadas em jogo. Possuindo"em jogo. Possuindo sofisticadas bases de avaliação do humor e tendência da sociedade, é difícil acreditar em leviandade e interesse partidário no seu ponto de vista.
Concretamente constata-se a harmonia de pensamento em relação à candidata Dilma Roussef. Ganha dimensão a intuitividade do cordelista Zé Piaba, numa região brasileira onde o carisma lulista chega à veneração. Demonstrando que o Brasil está diferente, sendo muito difícil eleger figuras sem currículo, historia e simpatia que penetre no imaginário popular. Não obstante o seu patrocinador colecionar índices extravagantes de popularidade. No Chile, a presidente Michele Bachelet tem 78% de aprovação popular, e dificilmente fará sucessor.

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.

COMUNICADO OFICIAL


NOTA
Dupla matrícula não será obrigatória
 
O ministro da Educação, Fernando Haddad, garantiu que o MEC não vai obrigar a realização da controvertida matrícula de alunos com deficiências nas escolas públicas, conforme consta do confuso projeto de resolução do Conselho Nacional de Educação, assinado no mês passado. “O ministro garantiu e tenho certeza que o problema [da dupla matrícula] será resolvido”, disse hoje (17), em Londrina, o deputado federal Alex Canziani (PTB), membro da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, que interpelou publicamente o próprio ministro durante sua audiência naquela Comissão, quarta-feira de manhã (14).
Muito questionada por pais e entidades de todo o Brasil, a resolução do Ministério fala da necessidade de se matricular os alunos, já a partir do próximo ano, nas escolas públicas e também em escolas especiais, para efeito de repasse do Fundeb e de política pública de inclusão.