sábado, 18 de abril de 2009

A VELHINHA NO TRIBUNAL

Em uma cidade do interior de Minas, o Promotor de Justiça chamou sua primeira testemunha, uma velhinha de idade bem avançada. 

Para começar a construir uma linha de argumentação, o Promotor perguntou à velhinha: 
- Dona Genoveva, a senhora me conhece? Sabe quem sou eu e o que faço?

- Claro que eu o conheço, Vinícius! Eu o conheci bebê. Você só chorava, deveria ser pelo pintinho pequeninho que você tinha. E,francamente, você me decepcionou. Você mente, você trai sua mulher, você manipula as pessoas,você espalha boatos e adora fofocas. Você acha que é influente e respeitado na cidade, quando na realidade você é apenas um coitado. Nem sabe que a filha esta grávida, e pelo que sei, nem ela sabe quem é o pai. Ah, se eu o conheço! Claro que o conheço!

O Promotor ficou petrificado, incapaz de acreditar no que estava ouvindo. Ficou mudo, olhando para o Juiz e para os jurados.
 
Sem saber o que fazer, apontou para o advogado de defesa e perguntou à velhinha:
- E o advogado de defesa, a senhora o conhece?
 
A velhinha respondeu imediatamente: 
- O Robertinho? É claro que eu o conheço! Desde criancinha. Eu cuidava dele para a Marina, a mãe dele, pois sempre que o pai dele saía, a mãe ia pra algum outro compromisso. E ele também me decepcionou. É preguiçoso, puritano, alcoólatra e sempre quer dar lição de moral nos outros sem ter nenhuma para ele. Ele não tem nenhum amigo e ainda conseguiu perder todos os processos em que atuou. Além de ser traído pela mulher com o mecânico...Isso mesmo, com o mecânico!
 
Nesse momento o Juiz pediu que a senhora ficasse em silêncio, chamou o promotor e o advogado perto dele, se debruçou na bancada e falou baixinho aos dois:
- Se algum de vocês perguntar a esta velha, filha da puta, se ela me conhece, vão sair desta sala presos! ...Fui claro?

AQUI QUEM FALA É O GARNIZÉ!

Sou o líder das criaturas inferiores do Bosque de Londrina e quero deixar descrito neste Manifesto Galináceo, minha indignação com essa idéia de nos tirar do Bosque. Estamos habitando a região há mais de 30 anos, por isso já adquirimos o direito de usufruto animal do local e pelo que nos consta, até uns dias atrás ninguém nem lembrava da nossa insignificante existência.

Nós, categoria inferior de espécie, pode até não parecer, mas contribuímos muito com a cidade, pois passamos o dia inteirinho ciscando em busca de bichinho apetitosos e catando o lixo que os belicados cidadãos londrinenses jogam indiscriminadamente no chão do Bosque, fazendo a maior sujeira. Espalhamos nossas fezes, um poderoso fertilizante cobiçado até pelo bicho homem e que vem auxiliar as nossas amigas árvores, fortificando-as, com isso deixando-as cada vez mais belas, verdes e frondosas, proporcionando sombra a vocês seres ingratos.

É mais que certo o ditado: - Deus ajuda quem cedo madruga! E seguimos a risca os ensinamentos do Mestre. Tanto é verdade, que até hoje nunca nos faltou alimento e nem a dignidade. Caso estejam incomodados com o nosso anúncio do início da aurora, é porque não conhecem a beleza dos primeiros raios de sol que despontam no horizonte ao alvorecer.   

Somos aves honestas e trabalhadoras, e sempre respeitamos o território dos humanos. Jamais invadimos o passo alheio. Porque agora, depois de mais de três décadas nos querem transformar em inimigos sem motivo substancialmente concreto? Acreditamos que seus verdadeiros inimigos são aqueles que recebem seus impostos e mal gastam o dinheiro. Desculpe-nos a intromissão, não nos cabe a citação, somos aves livres e não humanos cheios de obrigação.

Quanto ao fato de encontrarem nossos irmãos mortos em algum rincãozinho do Bosque, queira de antemão nos perdoar. Sabe como é! Somos aves que não voam, não possuímos mãos e nem sabemos cavar, só ciscar, que é insuficiente para covas abrir e nossos mortos enterrar. Mas o Todo Poderoso disse: “nascei, crescei, madurecei, multiplicai-vos, envelhecei e morrerás”. Este, senhores, é o ciclo natural da vida e nós miseras aves não temos força pra modificar.

Porém temos um excelente controle de natalidade, possuímos hoje, apenas cinco pintinhos para alimentar, provavelmente metade não chegará à fase adulta, irão morrer, serão roubados por algum moleque danado ou serão capturados por algum gavião esfomeado.

Por último deixamos um conselho, um apelo e uma questão para pensarem.

Primeiro o apelo. Por favor, nos deixe quietos no bosque, estamos felizes onde moramos, somos um grupo pequeno e prestamos um ótimo serviço à comunidade, contribuindo com a limpeza do chão do Bosque, com a fertilização das árvores e ainda servimos de despertados.

Segundo, aconselhamos aos senhores cidadãos da nossa amada Londrina (nossa sim, e porque não? Afinal moramos aqui há muito tempo, somos aves descendentes de aves pioneiras que habitam este solo, talvez mais tempo do que os humanos que reclamam de nós). Senhores e Senhoras moradoras da área em volta do Bosque, o que deveriam realmente fazer é mudarem-se para uma redoma de vidro aprova de som, pois não existe lugar no mundo que não haja barulho.

E em último, indagamos: - Como podem reclamam do nosso anúncio do amanhecer e não reclamam da gritaria das vossas vozes em discussão, da buzinas de seus carros, do barulho de seus ônibus, das músicas que escutam, do ronco dos caminhões e do barulho que faz o sobrevoo do avião?

Por favor, nos poupe da hipocrisia porque ao voltarem sua insana irá contra nós, meras aves, estão cometendo uma grande heresia.