Aos 80 anos, SYLVIO SEBASTIANI é um ícone na história política do Paraná, primou sempre pela coerência, ética e moral na política, com uma credibilidade ímpar no meio construída durante toda a sua vida publica. Sylvio nasceu em Batatais, interior do Estado de São Paulo, em 02 de agosto de 1929. Veio para o Curitiba junto com os seus pais aos 17 anos, em 1946.
Em 1955 Sylvio Sebastiani assumiu o Cartório de Registro de Imóveis de Toledo interinamente e em 1957, indicado pelo PTB assume a presidente da Câmara de Vereadores daquele município. No ano seguinte (1958) retorna a Curitiba e passa então a participar ativamente da política representando seu partido, o PTB. No ano de 1959 é nomeado fiscal do extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC).
Nomeado funcionário da Assembléia Legislativa do Paraná em 1963.
Em 31 de março de 1964, durante o golpe militar, foi detido por distribuir folhetos do PTB, contra o golpe. Levado ao Quartel General, Sylvio Sebastiani foi "apresentado" ao general Dário Coelho.
No início de 1966, com a extinção dos partidos políticos, ingressou no Movimento Democrático Brasileiro - MDB, sendo Secretário da Comissão Provisória do Paraná, quando era Presidente o deputado Federal Miguel Buffara.
Foi Secretário do Diretório Municipal do MDB de Curitiba e por três vezes Presidente, até sua extinção, em 1979. Ainda no mesmo ano, vai à Foz do Iguaçu recepcionar o líder trabalhista Leonel Brizola que retornava do exílio.
O velho Sylvio é cidadão honorário de Curitiba, membro do Centro de Letras do Paraná e recebeu o prêmio Pablo Neruda.
Comentarista político desde 1982, é hoje a maior expressão viva da história política do MDB no nosso estado, com três livros publicados sobre o assunto, Posição do MDB no Paraná (1976), Por Dentro do MDB-Paraná (1992) e Governadores do Paraná - A História por quem construiu a história" escrito em parceria com o amigo ex-senador Enéas Faria (1998).
Nesta entrevista iremos recordar algumas histórias e saber mais o que pensa e como o mestre Sylvio vê o painel político em 2010 para o Paraná e para o Brasil.
O que ou quem levou o Sylvio Sebastiani ao ingresso na vida publica?
Sebastiani. Em 1953 nos éramos em quatro amigos, Luiz Alberto Dalcanale (Neno), Constâncio da Silveira Neto e Caetano Munhoz da Rocha Neto, este filho do então Governador Bento Munhoz da Rocha Neto, Ano que estivemos nas beiras dos Rios Piquiri e São Camilo, hoje Município de Palotina, afim de caçar e pescar, uma aventura de jovens. Com essas amizades veio à política, o Neno era noivo da Zorah, filha do deputado federal Aramis Athayde e o Caetano filho do Governador. No ano de 1954 era marcado para a primeira eleição por voto secreto do Prefeito de Curitiba, O então Major Ney Braga era cunhado do Governador Bento e Chefe de Policia do Paraná, assim foi escolhido candidato à Prefeito. Eu ligado já à política, principalmente com Dr. Aramis, colaborei muito naquela eleição, na qual o Neno era candidato a deputado estadual e o deputado Aramis Athayde, candidato à reeleição.
Em 24 de agosto, faleceu o Presidente Getulio Vargas, assumindo o Governo Federal o vice, Café Filho, muito amigo do Governador Bento.
Certa noite estava na casa do deputado Aramis Athayde e chegou o Governador, procurando por ele, que estava em campanha na região de Maringá. O Governador me incumbiu de comunicar a ele que o Presidente Café Filho tinha nomeado Ministro da Saúde. Telefonei para o Grande Hotel de Maringá, não o encontrando, deixei recado para retornar à Curitiba, no primeiro avião, o que fez. Assim com Dona Maria Zorah e Zorah, sua filha, fomos ao aeroporto, ocasião que fui até a porta do avião, o que na época era possível, e dei-lhe a noticia da nomeação de ser ele o primeiro Ministro do Paraná. O então Ministro desistiu da candidatura de deputado federal. Com isso fomos efetivamente participar da campanha eleitoral para eleger o candidato à Prefeito, Major Ney Braga.
Minha dedicação foi em tempo integral, me entrosando com o candidato, e ainda a candidatura de Luiz Alberto Dalcanale, o Neno, deputado estadual e o apoio transferido do Dr. Aramis Athayde, para o Coronel Luiz Carlos Tourinho, candidato à deputado federal, todos pelo PSP. Quando foi eleito o Major Ney Braga, Prefeito de Curitiba, Luiz Alberto Dalcanale (Neno), ficou como 2° Suplente e Luiz Carlos Tourinho se elegeu deputado federal. Naquele ano de 1954, que se deu a minha primeira participação efetiva, em campanha eleitoral.
Como se deu o Golpe de 64 no Paraná?
Sebastiani. Foi uma surpresa. A mim não era esperado, tudo corria normalmente. Neste ano, o General Italo Conti, ex-deputado federal, em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, afirmou que o então Governador Ney Braga sabia do Golpe, dois anos antes. Provei que não poderia ser, pois apresentei uma carta do Governador Ney Braga, dirigida ao PTB do Paraná, datada de 22 de fevereiro de 1963, que em certo trecho disse ele: ”Ultrapassada, porém, esta importante fase do desenvolvimento político brasileiro e quando o Presidente João Goulart, depositário das esperanças populares, já assumiu, com autoridade, o comando efetivo do Governo Federal, sinto-me à vontade para, respondendo ao oficio a mim encaminhado pela referida comissão”..., assim por diante. Essa carta prova que o Governador Ney Braga, não sabia do Golpe, ao menos nos dois anos antes, pois sabendo não escreveria essa carta ao PTB do Paraná. Carta esta que a “original” ficou em meu poder durante todos estes anos, entregando ao ex-Governador Ney Braga, somente meses antes de sua morte, após uma entrevista gravada em sua residência. O Governador Ney Braga, ao ler a carta, disse: ”Porque você guardou isso meu filho por todo esse tempo, sem dar conhecimento à ninguém? ”Respondi que a carta poderia prejudicá-lo naquele período da ditadura e eu tinha muito respeito por ele”. Ney Braga me abraçou, com os olhos cheios de lágrimas e agradeceu, pela minha atitude. Recentemente entreguei outra carta dirigida ao PTB, original, à sua filha Silvia Maria, com um DVD da gravação da entrevista.
O senhor era muito amigo do José Neves Formighieri e nos contou sobre uma história dos bastidores. Sylvio pode narrar novamente o fato para o nosso leitor?
Sebastiani. José Neves Formighieri, era candidato à Prefeito de Cascavel, quando da primeira eleição por voto direto e secreto. Seu adversário era uma pessoa idosa, morador antigo de Cascavel. No dia da eleição, ele ficou preparando churrasco em sua casa e levando os eleitores para votar no Forum. Quando foi notar a hora, passava das 17 horas e foi votar. Estava fechada, encerrada a votação, ele não votou, nele mesmo. Resultado: Neves Formighueri foi eleito com a diferença de um voto. Se houvesse empate, o outro ganharia por idade.
Como foi recepcionar o Brizola voltando do exílio?
Sebastiani. Emocionante! Todos esperavam no alto do aeroporto, quando desceu o avião, vimos um jovem correndo com uma bandeira do Brasil nas mãos, parou e beijou o chão. José Carlos Mendes. Leonel Brizola, após abraços e manifestações, desce encontro tenho uma foto, em seguida embarcou em um veículo antecipadamente fretado pelo Senador Leite Chaves e o Deputado Federal Getulio Dias, seguindo para o Hotel das Cataratas. Eu segui atrás na camionete do Senador Leite Chaves e com o Léo de Almeida Neves. Entrevistas, fotos. Após um jantar, quando fui à presença de Brizola e lhe fiz a entrega do meu livro: ”Posição do MDB no Paraná”, com uma dedicatória, que ele mesmo leu em voz alta. Os jornais noticiaram que Brizola ganhou em Foz do Iguaçu dois presentes: um quadro com a Carta-Testamento de Vargas e o livro de Sylvio Sebastiani, Presidente do MDB de Curitiba.
É verdade que foi o senhor que autorizou a instalação do MDB em Cascavel? Quem foram os primeiros signatários do partido?
Sebastiani. Em 1966, fui à Cascavel com o candidato a deputado estadual Nelson Buffara para armar uma equipe para ajudá-lo. Procurei meu particular e antigo amigo Odilon Reinhardt, que era Prefeito pela Arena, de noite em sua casa. Disse que teria três amigos que pretendiam ingressar no MDB, assim marcou no dia seguinte um encontro com eles, Paulo Gorski, Paulo Marques e Roberto Paiva. Eu era Secretário da Comissão Provisória do MDB do Paraná, assim, abrimos um livro de Atas e entreguei para eles os poderes para organizar o Partido em Cascavel. Deu certo, pois o Nelson Buffara foi o mais votado do MDB em Cascavel, Paulo Marques posteriormente foi deputado Federal e Paulo Gorski, foi ser Secretário do Governo de José Richa e uma figura de expressão do Partido.
Qual os seus laços com Cascavel fora o MDB?
Sebastiani. Em 1955 fui residir em Toledo, por ter sido nomeado Oficial Interino do Registro de Imóveis, e Cascavel era a cidade de movimento político de grande expressão do oeste. Neves Formighieri era Prefeito, Odilon Reinhardt em 1956, foi para ser Promotor Público, havia o Restaurante da família Disorde, a casa do Adão Isler, para dormir com segurança total, o medico Wilson Jofre, aviões regulares, sob o comando do Irio e José Bertoli e bailes, com algumas brigas, mas a gente pulava a janela e uns tirinhos, pela madrugada. Em Cascavel também, certa noite serviu de abrigo, quando tive um problema de uma revolta em Toledo, devido à denúncia maldosa, falsa e mentirosa, de destruição da Usina de Toledo. Cascavel onde me sentia muito bem. Mas gostava também de Toledo, pois era uma cidade mais calma, onde fui Vereador.
Dizem que o senhor é meio padrinho, meio conselheiro político do senador Álvaro Dias, Roberto Requião, Hélio Duque, dentre outros. De fato quem sou suas crias política?
Sebastiani. Sou amigo pessoal do Senador Álvaro Dias, desde 1971 quando ele foi deputado estadual, e sou seu assessor político.Quanto ao ex-deputado Helio Duque, que também é suplente do Senador Álvaro Dias. Somos trocadores de palpites políticos, junto com o Edson Gradía, todas as tardes no escritório do Senador. Crias políticas tenho bastante, uns reconhecem, outros não, o que é comum. O ex-senador Leite Chaves, reconhece, o vereador Mário Celso que foi também deputado, reconhece, o ex-deputado Nelson Buffara, já falecido sempre dizia: devo a minha primeira eleição ao Sylvio, que me levou para Cascavel e Toledo e com esses votos, fui eleito”. O Neno, as vezes reconhece. O Enéas Faria, quando apresentei para ser candidato a Senador em 1978 e não foi eleito, a família e amigos não gostaram, mas depois ele como suplente do José Richa, acabou assumindo em 1983 e foi Secretário do Senado, todos gostaram. Vários vereadores de Curitiba, ainda foram gratos. O próprio atual Governador Roberto Requião, certo dia, talvez bem humorado, diante de sua esposa Maristela, de seu irmão Eduardo, aliás, meu grande e bom amigo e do então Tenente Anselmo, do lado do Paraguai, disse: ”Você pode falar mal de mim a vida toda, porque o que devo à você, não poderei pagar nunca”. Lembrando a eleição para a Prefeitura de Curitiba em 1985, esquecendo de 1990, para Governador do Paraná.
É notório que seu filho é o secretário de planejamento do Prefeito Beto Richa (PSDB). Como o senhor está vendo esse escândalo envolvendo o prefeito?
Sebastiani. Por ele ser Secretário de Finanças da Prefeitura de Curitiba, estou impedido de falar nesse assunto, enquanto ele estiver neste cargo.
O painel para sucessão em 2010 para o governo do Paraná ainda está nebuloso. Com anos de experiência política, como o senhor acredita que as atuais forças do Estado irão se agrupar?
Sebastiani. Essa análise é simples. O PT do Governo Federal não tem candidato à Governador. O PMDB do Governador Roberto Requião não “fez” candidato à Governador. Assim restam candidatos de oposição para eles. Osmar Dias tem um Partido, o PDT do qual ele é Líder, portanto tem Partido, embora seja fraco e até no horário eleitoral precise do apoio de outros partidos, além de ser o final de seu mandato de Senador. O Prefeito Beto Richa, tem o comando total de seu partido, o PSDB do Paraná, mas tem que renunciar quase 3 anos antes e deixar na Prefeitura ao seu vice que é do PSB, partido este, nacionalmente comandado pelo PT. O Senador Álvaro Dias tem mandato até 2.014, mas não tem apoio do PSDB do Paraná, que é cartorial, mas está visitando, como é de seu costume, todo o Estado do Paraná. Hoje Álvaro é um político de nome nacional. Assim estes três pretendentes candidatos são cortejados pelos outros partidos, como o PT, PMDB, PPS, PR, PP, DEM e outros mais. Creio que esse assunto será resolvido até meados de setembro, pois no dia 3 de outubro, é o prazo fatal;
Dilma, Serra ou Aécio, na sua visão quem item de fato chances de ser o novo presidente do Brasil?
Sebastiani. Atualmente é uma resposta para Profeta.
Mestre Sylvio, no que o senhor ainda mantém a esperança e em que o senhor não acredita mais?
Sebastiani. Eu acredito ainda que a população brasileira. No próximo ano, principalmente as eleitoras e os eleitores irão ter uma participação mais ativa no processo eleitoral, escolhendo candidatos dignos, preparados, com passados marcados pela honestidade, evitando aqueles que distribuem vantagens, que gastam em publicidade, que recebem valores de empresários, Pois o empresário que investe neste tipo de político quer o retorno de seu investimento através de cobrança de altas taxas, obtendo lucros bastante superiores, pagos por nós, “o povo”, os contribuintes de impostos.
Creio sim, que teremos a participação da juventude durante a campanha eleitoral do próximo ano (2010). Os políticos desonestos, que são muitos, devem ser alijados da vida pública, através do voto secreto, direto e democrático.
Por Soraya Garcia - Jornal GAZETA DO PARANÁ