A partir do que foi decidido num encontro da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que aconteceu em julho de 2004 em
São Tomé e Príncipe, o novo acordo ortográfico entraria em vigor no momento em que três países dessa comunidade o ratificassem. O Brasil o fez em outubro de 2004,
Cabo Verde em abril de 2005 e São Tomé em novembro de 2006. Desse modo, necessariamente os outros países de língua portuguesa acatarão esse acordo, cada um a seu tempo. No Brasil, a fase de adaptação à nova ortografia se estenderá até 2012. Daí em diante, só a nova ortografia terá validade.
Oferecemos aqui aos leitores um resumo das mudanças no Português falado no Brasil. O que podemos aconselhar aos leitores é que adquiram no futuro um exemplar do novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela
Academia Brasileira de Letras. Além disso, certamente poderemos contar com o fato de que as empresas do setor de computação lançarão novos editores de texto com as mudanças, para facilitar esse trabalho aos usuários de computador.
O Alfabeto
Seguindo as indicações do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, nosso alfabeto passa a ser formado por 26 letras, com a inclusão de “k”, “w” e “y”, que formalmente não pertenciam a ele. Assim, elas são oficializadas em nomes próprios, símbolos, siglas e palavras estrangeiras (watt, km).
O Trema
Com exceção de nomes próprios e derivados, o trema (o sinal de dois pontinhos sobre a letra ü) não será mais usado em nossa língua. Naturalmente, as palavras que precisavam de trema agora serão escritas sem ele, como por exemplo: frequência, eloquência, consequência.
Acentuação
Os ditongos abertos (ei, oi) não são mais acentuados em palavras paroxítonas, como por exemplo: ideia, colmeia, boia, heroico, paranoico.
Exceções: o acento continua nos ditongos abertos de palavras oxítonas e monossilábicas: anéis, dói, papéis, herói.
Bem como o acento no ditongo aberto ‘éu’ continua: céu, véu, chapéu.
Os hiatos “oo” e “ee” não são mais acentuados: voo, coo, moo, perdoo, veem, creem, leem.
Foi descartado o acento diferencial para palavras homógrafas (de grafia igual): pelo (substantivo), pera (substantivo), para (verbo), pela (substantivo e verbo).
Exceção: o acento diferencial é mantido para o verbo “poder”, na 3ª pessoa do Pretérito Perfeito do Indicativo: “pôde” e no verbo “pôr” para diferenciar este da preposição “por”.
A letra ‘u’ não é mais acentuada nas formas verbais rizotônicas (quando os acentos tônicos são na raiz do verbo) quando for precedida de “g” ou “q” e seguida de “e” ou “i”. Exemplos: apazigue, averigue, enxague, oblique.
Os fonemas “i” e “u” tônicos não são mais acentuados em palavras paroxítonas quando forem precedidos de ditongo. Exemplos: boiuna, baiuca, feiura.
O Hífen
O hífen foi abolido em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) que terminam em vogal + palavras iniciadas por “r” ou “s”; quando for este o caso, essas letras devem ser duplicadas.
Exemplos: antissocial, antirrugas, autorregulação, contrassenha, extrasseco, ultrarromântico, suprarrenal, etc.
Atenção: em prefixos terminados em “r”, o hífen permanece se a palavra seguinte for iniciada pela mesma letra: hiper-requintado, inter-racial, inter-regional, inter-relação, super-realista, etc.
O hífen foi abolido em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por outra vogal.
Exemplos: autoajuda, autoescola, autoestrada, contraindicação, contraordem, extraoficial, infraestrutura, semiaberto, semiautomático, semiárido, ultraelevado, etc.
1. esta nova regra permite a uniformização de algumas exceções que já existiam em nosso idioma: antiaéreo, antiamericano, socioeconômico, etc.
2. mas esta regra não é aplicada quando a palavra seguinte começar por “h”: anti-herói, anti-higiênico, etc.
Continua a utilização do hífen quando a palavra é formada por um prefixo (ou falso prefixo) terminado em vogal + palavra iniciada pela mesma vogal.
Exemplo: anti-inflamatório, anti-imperialista, arqui-inimigo, micro-ondas, micro-ônibus, etc.
Atenção: quando o prefixo termina em vogal e a palavra seguinte começa com vogal diferente, não tem hífen; quando o prefixo termina em vogal e a palavra seguinte começa com a mesma vogal, mantém-se o hífen.
Exceção: o prefixo “co”. Mesmo que a palavra seguinte comece com a vogal “o”, não utiliza-se hífen.
O hífen foi abolido em palavras compostas que, pelo uso, perderam a noção de composição.
Exemplos: paraquedas, paraquedista, parabrisa, etc.
Atenção: o hífen continua a ser utilizado em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e que constituem unidade sintagmática e semântica, mantendo seu acento próprio, bem como naquelas que designam espécies botânicas e zoológicas: ano-luz, médico-cirurgião, conta-gotas, tenente-coronel, beija-flor, erva-doce, bem-te-vi etc.
Atenção:
O uso do hífen continua:
Em palavras formadas pelos prefixos “ex”, “vice” e “soto” (posição inferior): ex-marido, vice-presidente, soto-ministro.
Em palavras formadas pelos prefixos ‘circum’ e ‘pan’ seguidos de palavras iniciadas com vogal, “m” ou “n”: pan-americano, circum-navegação.
Em palavras formadas pelos prefixos “pré”, “pró” e “pós” seguidos de palavras que tem significado próprio: pré-natal, pró-socialismo, pós-graduação.
Em palavras formadas pelas palavras “além”, “aquém”, “recém”, “sem”: além-mar, aquém-mar, recém-casados, sem-teto, etc.
Atenção:
O hífen foi abolido em locuções de qualquer tipo (substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais): fim de semana, café com leite, pão de mel, cartão de visita, etc.
Exceto em algumas expressões, como por exemplo: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, etc.