sexta-feira, 15 de maio de 2009

LIVRO APONTA: OS GOVERNOS DO BRASIL NUNCA TIVERAM UM PLANO AGROPECUÁRIO

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O agricultor, agrônomo e sertanista, José Novaes Faraco, acaba de lançar um livro pela UEL que revela a verdadeira face do tratamento dado pelo governo à agricultura e ao agronegócio brasileiro.

Formou-se em agronomia pela Unesp/Jaboticabal no ano de 172 e em 1973 teve seu primeiro roçado de café plantado. Como sertanista localizou, demarcou e fundou no meio da década de 70 a cidade de Nova Monte Verde, a oeste do município de Alta Floresta no Mato Grosso.

Em entrevista dada com exclusividade a Gazeta do Paraná, Faraco revela dados importantes de suas pesquisas de mais de 20 anos que foram o combustível para escrever seu livro, intitulado BIOBRAS.

 Quais são os motivos que o levaram a escrever seus livro?

FARACO. - As pessoas precisam saber como o homem do campo foi e é visto pelos governos, e o que de fato é “pingo”, é “i” e é “frase” nesta história toda.

Você quer dizer que os Governos até hoje não tiveram o devido respeito pelo agricultor?

FARACO. – Não, é que a visão governista é equivocada. Olham, para o agricultor, seja ele pequeno, médio e grande com um manto ideológico que os cobre a retina. Esse viés ideológico acabou há décadas, desde o momento que passamos da casa de 3 bilhões de seres humanos habitando a terra. A agricultura é uma industria como qualquer outra e isso demonstro no livro, através de estatísticas e estudos encomendados pelo do próprio governo federal ao IBGE e a FGV.  

Isso significa que os governos em geral vêm errando ao dirigir suas políticas agrícolas mesmo com os dados nas mãos?

FARACO. Sim, é a antiga política da colonização, dependência e subordinação orgânica e funcional da economia brasileira em relação ao conjunto internacional. Basta observar que a maioria das nossas áreas cultivadas reproduz as necessidades alimentares das regiões temperadas da Europa, da América mais ao Norte e da Ásia. Enquanto isso importamos em 2007/2008 os três itens básicos da nossa população, e a safra foi recorde período. Pra vocês terem uma idéia, em arroz consumimos 13.100 mil toneladas e produzimos apenas 11.955 mil toneladas; a demanda de trigo no mercado interno foi de 10.250 mil toneladas e produção nacional foi apenas de 3.824 mil toneladas. A de feijão então, empatou, 3.400 toneladas, porque tivemos preços elevados para o produto, chegando no Norte e Nordeste do Brasil um quilo de feijão a passar dos R$ 12,00, além racionamento voluntário que o preço acabou provocando no consumidor.

O senhor apontou no seu livro que o orçamento anual para agricultura empurra o homem do campo pra o endividamento. Pode nos explicar como assim?

FARACO.  Vou dar um exemplo prático. No ano dos jogos Pan Americanos no Brasil. Não quero desmerecer os jogos, foram lindos e muito bom para o incentivo ao esporte que tira tantas e tantas crianças da ruas e das garras da marginalidade. O Orçamento da Geral da União foi de R$ 542 bilhões, para os jogos foram destinados R$ 5,5 bilhões, para agricultura apenas R$ 4,5 bilhões, R$ 1 bilhão a menos do que foi gasto com os jogos e apenas 0,83% do valor total do Orçamento da União. Para o setor da economia que sustenta a balança comercial em época de crises e representa mais 35% de toda riqueza produzida no país, é pouco. Então com financiamento irrisório, o agricultor que gasta no mínimo R$ 3 mil por hectare plantado por safra, acaba recorrendo a empréstimos com as traddings e aos holdings (oligopólios) de insumo e defensores agrícolas. Resultado. Vendem para adquirir o custeio do plantio, sua safra antecipadamente e pelo preço que eles (traddings e holdings) determinam. 

Você também afirma no seu livro que os Governos foram e são responsáveis pelo especulação imobiliária no campo. Como?

FARACO. De fato, o Governo ao não sobre taxa o ITR das terras paradas como determina a Constituição de 88, e ainda permiti que invasões de terras aconteçam ao mesmo tempo em que não obriga o invasor a ficar no local pelo resto de seus dias vivo entre nós. Muito pelo contrário estimula e até financia, mesmo sem querer a especulação imobiliária no campo. Veja você, que 90% do investimento agropecuarista no Brasil está na aquisição de terras e apenas 10% para fim de atividades no cultivo e manejo, a chamada Agricultura científica. Se a industria convencional, setor de serviços ou de tecnologia fosse viver apenas de seu capital físico (prédio, máquinas, espaço físico, etc) quebraria.

 Então os Governos vem aquecendo este mercado?

Faraco. Sim. Nos últimos 20 anos o Governo Federal através da sua política de Reforma Agrária comprou 75 milhões de hectares, 8% do território nacional. Mas se levarmos em conta que as áreas cultiváveis são de 282 milhões de hectares, o governo comprou 25% de área, e pior, pagou caro pela área, em média R$ 4.300 por hectare, injetando no mercado imobiliário agrário R$ 322 bilhões, deixando muito agricultor feliz.

Você afirmou que há mais de uma invasão no Brasil por dia de terras agrícolas realizadas pelo MST e que o governo está financiando isso sem saber. Com assim?

FARACO. De 1988 até o ano passado foram 7.561 invasões de Norte a Sul do país. O ano o CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura) que dá apoio aos assentados, tiveram disponíveis R$ 13 bilhões e gastaram apenas R$ 11 bilhões. Pois bem, como eu disse, é necessário um gasto mínimo de R$ 3 mil por hectare para preparar a terra, arar, adubar, plantar, aí vem os pesticidas e demais gastos com mão de obra que são à parte. Se você pegar 75 milhões de hectares e dividir por R$ 11 bilhões gastos, fosse terá um pouco mais de R$ 146,00 por hectare. Outra coisa, onde está o produtos que foi produzido?

 

Você afirma que a Reforma Agrária só endividou o homem do campo e está acabando com a figura do agricultor.

FARACO. Verdade, porque o assentado tem que financiar para construir as benfeitorias do lote e o cultivo. Apesar da taxas de juros do empréstimo ser na faixa de 6,5% ao ano, não existe seguro pra safra do grande quanto mais do pequeno. Hoje a inadimplência está 65% dos assentados, e estes, estão seprocados e o restante, os outros 35% está em negociação com os bancos. Salvo uma cooperativa ou outra...

O você toca neste ponto, as Cooperativas e propõem um sistema similar para profissionalizar o campo.

FARACO. A melhor maneira de ser proteger é através do cooperativismo. Porém o que proponho difere um pouco.

A Biobrás é um instituto que disporá aos associados por `adesão’ a agricultura científica, insumos, financiamentos e compra da safra mantendo estoques reguladores dos preços. Que era o que o governo deveria fazer. Não será subsidiar, mas acolher, proteger e amparar o agricultor, não fazer o que vêm fazendo todos os governos até hoje, empurra os coitados dos agricultores nas mãos das traddings e holdings com sua política inconseqüente e sem estratégiacomercial para o campo.

 

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