Formou-se em agronomia pela Unesp/Jaboticabal no ano de 172 e em 1973 teve seu primeiro roçado de café plantado. Como sertanista localizou, demarcou e fundou no meio da década de 70 a cidade de Nova Monte Verde, a oeste do município de Alta Floresta no Mato Grosso.
Em entrevista dada com exclusividade a Gazeta do Paraná, Faraco revela dados importantes de suas pesquisas de mais de 20 anos que foram o combustível para escrever seu livro, intitulado BIOBRAS.
FARACO. - As pessoas precisam saber como o homem do campo foi e é visto pelos governos, e o que de fato é “pingo”, é “i” e é “frase” nesta história toda.
FARACO. – Não, é que a visão governista é equivocada. Olham, para o agricultor, seja ele pequeno, médio e grande com um manto ideológico que os cobre a retina. Esse viés ideológico acabou há décadas, desde o momento que passamos da casa de 3 bilhões de seres humanos habitando a terra. A agricultura é uma industria como qualquer outra e isso demonstro no livro, através de estatísticas e estudos encomendados pelo do próprio governo federal ao IBGE e a FGV.
Isso significa que os governos em geral vêm errando ao dirigir suas políticas agrícolas mesmo com os dados nas mãos?
FARACO. Sim, é a antiga política da colonização, dependência e subordinação orgânica e funcional da economia brasileira em relação ao conjunto internacional. Basta observar que a maioria das nossas áreas cultivadas reproduz as necessidades alimentares das regiões temperadas da Europa, da América mais ao Norte e da Ásia. Enquanto isso importamos em 2007/2008 os três itens básicos da nossa população, e a safra foi recorde período. Pra vocês terem uma idéia, em arroz consumimos 13.100 mil toneladas e produzimos apenas 11.955 mil toneladas; a demanda de trigo no mercado interno foi de 10.250 mil toneladas e produção nacional foi apenas de 3.824 mil toneladas. A de feijão então, empatou, 3.400 toneladas, porque tivemos preços elevados para o produto, chegando no Norte e Nordeste do Brasil um quilo de feijão a passar dos R$ 12,00, além racionamento voluntário que o preço acabou provocando no consumidor.
O senhor apontou no seu livro que o orçamento anual para agricultura empurra o homem do campo pra o endividamento. Pode nos explicar como assim?
FARACO. Vou dar um exemplo prático. No ano dos jogos Pan Americanos no Brasil. Não quero desmerecer os jogos, foram lindos e muito bom para o incentivo ao esporte que tira tantas e tantas crianças da ruas e das garras da marginalidade. O Orçamento da Geral da União foi de R$ 542 bilhões, para os jogos foram destinados R$ 5,5 bilhões, para agricultura apenas R$ 4,5 bilhões, R$ 1 bilhão a menos do que foi gasto com os jogos e apenas 0,83% do valor total do Orçamento da União. Para o setor da economia que sustenta a balança comercial em época de crises e representa mais 35% de toda riqueza produzida no país, é pouco. Então com financiamento irrisório, o agricultor que gasta no mínimo R$ 3 mil por hectare plantado por safra, acaba recorrendo a empréstimos com as traddings e aos holdings (oligopólios) de insumo e defensores agrícolas. Resultado. Vendem para adquirir o custeio do plantio, sua safra antecipadamente e pelo preço que eles (traddings e holdings) determinam.
Você também afirma no seu livro que os Governos foram e são responsáveis pelo especulação imobiliária no campo. Como?
FARACO. De fato, o Governo ao não sobre taxa o ITR das terras paradas como determina a Constituição de 88, e ainda permiti que invasões de terras aconteçam ao mesmo tempo em que não obriga o invasor a ficar no local pelo resto de seus dias vivo entre nós. Muito pelo contrário estimula e até financia, mesmo sem querer a especulação imobiliária no campo. Veja você, que 90% do investimento agropecuarista no Brasil está na aquisição de terras e apenas 10% para fim de atividades no cultivo e manejo, a chamada Agricultura científica. Se a industria convencional, setor de serviços ou de tecnologia fosse viver apenas de seu capital físico (prédio, máquinas, espaço físico, etc) quebraria.
Faraco. Sim. Nos últimos 20 anos o Governo Federal através da sua política de Reforma Agrária comprou 75 milhões de hectares, 8% do território nacional. Mas se levarmos em conta que as áreas cultiváveis são de 282 milhões de hectares, o governo comprou 25% de área, e pior, pagou caro pela área, em média R$ 4.300 por hectare, injetando no mercado imobiliário agrário R$ 322 bilhões, deixando muito agricultor feliz.
Você afirmou que há mais de uma invasão no Brasil por dia de terras agrícolas realizadas pelo MST e que o governo está financiando isso sem saber. Com assim?
FARACO. De 1988 até o ano passado foram 7.561 invasões de Norte a Sul do país. O ano o CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura) que dá apoio aos assentados, tiveram disponíveis R$ 13 bilhões e gastaram apenas R$ 11 bilhões. Pois bem, como eu disse, é necessário um gasto mínimo de R$ 3 mil por hectare para preparar a terra, arar, adubar, plantar, aí vem os pesticidas e demais gastos com mão de obra que são à parte. Se você pegar 75 milhões de hectares e dividir por R$ 11 bilhões gastos, fosse terá um pouco mais de R$ 146,00 por hectare. Outra coisa, onde está o produtos que foi produzido?
Você afirma que a Reforma Agrária só endividou o homem do campo e está acabando com a figura do agricultor.
FARACO. Verdade, porque o assentado tem que financiar para construir as benfeitorias do lote e o cultivo. Apesar da taxas de juros do empréstimo ser na faixa de 6,5% ao ano, não existe seguro pra safra do grande quanto mais do pequeno. Hoje a inadimplência está 65% dos assentados, e estes, estão seprocados e o restante, os outros 35% está em negociação com os bancos. Salvo uma cooperativa ou outra...
O você toca neste ponto, as Cooperativas e propõem um sistema similar para profissionalizar o campo.
FARACO. A melhor maneira de ser proteger é através do cooperativismo. Porém o que proponho difere um pouco.
A Biobrás é um instituto que disporá aos associados por `adesão’ a agricultura científica, insumos, financiamentos e compra da safra mantendo estoques reguladores dos preços. Que era o que o governo deveria fazer. Não será subsidiar, mas acolher, proteger e amparar o agricultor, não fazer o que vêm fazendo todos os governos até hoje, empurra os coitados dos agricultores nas mãos das traddings e holdings com sua política inconseqüente e sem estratégiacomercial para o campo.
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