domingo, 19 de julho de 2009

UM PILAR DE FERRO

“O povo vai passar por cima dessa gente”


Pedro Jorge Simon, natural de Caxias do Sul (RS), nasceu em 31 de janeiro de 1930, filho de libaneses que chegaram ao Rio Grande em 1922. Ele é advogado, professor universitário e político. Atualmente é Senador pelo PMDB gaúcho.

Ingressou na política em 1958, ao se eleger vereador em sua cidade natal pelo PTB. Quatro anos depois foi eleito deputado estadual. Filiou-se ao MDB em 1965, quando o bipartidarismo foi implantado pelo Regime Militar através do Ato Institucional nº 2, de outubro de 1965.

Líder da oposição à ditadura no sul, foi reeleito deputado estadual pelo MDB nas eleições de 1966, 1970 e 1974 - nas últimas duas eleições foi o mais votado do Rio Grande do Sul.

Apesar da herança em comum da legenda trabalhista, Simon disputou com Leonel Brizola o comando da frente contra a ditadura no Estado. Emérito colaborador de Ulysses Guimarães, presidiu desde o início o diretório regional do MDB em seu estado, sendo eleito senador em 1978. Com o fim do bipartidarismo em 1982, ingressou no PMDB, o herdeiro natural do MDB. Na primeira eleição pelo voto direto para governador, naquele ano, o favorito Simon teve uma inesperada derrota, golpeado pela divisão das forças de oposição no sul. O choque do MDB de Simon com o PDT brizolista de Alceu Collares abriu espaço para a surpreendente vitória de Jair Soares, o candidato do PDS, herdeiro da ARENA, a sigla que sustentava a ditadura militar.

Em 1983 Simon assumiu a vice-presidência nacional do PMDB. No ano seguinte, 1984, foi o coordenador nacional das Diretas-Já, o maior movimento de massas da política brasileira. A derrota da emenda Dante de Oliveira no Congresso levou Simon à articulação do PMDB com os dissidentes governistas da Frente Liberal que levaram à formação da Aliança Democrática, que elegeu Tancredo Neves e José Sarney no Colégio Eleitoral, em 1985.

Escolhido ministro da Agricultura por Tancredo, foi mantido no cargo no Governo Sarney. Renunciou no início de 1986 para se candidatar ao Governo do Rio Grande do Sul. Desta vez, foi vitorioso. Renunciou ao governo em abril de 1990, sendo substituído pelo seu vice Synval Guazzelli, e seis meses mais tarde foi eleito para seu segundo mandato de senador. De volta à Câmara Alta do país foi coordenador e titular da CPI que levou ao impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992. Foi líder do Governo Itamar Franco no Senado Federal. Integrou a CPI dos Anões do Orçamento. Foi reeleito para um terceiro mandato em 1998 e chegou a ter seu nome cogitado pelo PMDB como alternativa à sucessão presidencial de 2002. Em 2006 conquistou seu quarto mandato como senador, sendo o terceiro consecutivo.

Devoto da ordem franciscana, a quem fez voto de pobreza, Pedro Simon é considerado por muitos o mais íntegro senador do país. Orador temido e referência ética na política, foi um dos primeiros a pedir a renúncia de José Sarney da presidência do Senado Federal, hoje no centro de escândalos que envergonham o Parlamento e o país. Aos 79 anos, um dos mais antigos parlamentares em exercício no país, Pedro Simon revela-se envergonhado, cansado, impotente diante de tantas denúncias e tantas omissões. “Tenho uma vontade imensa de ir pra casa. Não tenho mais o que fazer aqui”, desabafou o bravo senador a este blog. Pedro Simon, este bravo parlamentar que honra a política brasileira, é hoje um dos poucos pilares de ferro da moralidade e da ética que se espera do Congresso Nacional. Pedro Simon em entrevista a esta blogueira e ao Jornal Gazeta do Paranáe:


Senador, como o Sr. se sente com essa avalanche de denúncias contra o Senado?

Pedro Simon Eu me sinto muito mal, porque o Senado não está tendo a reação que se esperava. É só conversa fiada e objetividade, nenhuma. Aliás, nada poderá ser feito se o Sarney não renunciar ou nós não cassarmos o seu mandato de presidente.


Como os colegas de seu partido, o PMDB, reagiram ao seu pedido de afastamento de Sarney da presidência da Casa?

Simon- Lamentavelmente, tanto a maioria da bancada como o comando nacional do PMDB não pensa. Eles agem de acordo com possíveis vantagens que possam ter.

O Sr. acredita que as medidas administrativas adotadas nos últimos dias resolverão os problemas do Senado Federal?

Simon Enquanto o presidente Sarney não for afastado, não haverá isenção, nem coragem para fazer o mínimo necessário.

Como o homem, o cidadão Pedro Simon se sente vendo o desmoronamento moral do Senado perante o povo brasileiro?

Simon - Sinto uma profunda mágoa. Eu me pergunto o que estou fazendo aqui há 30 anos. Tudo agora está muito pior do que quando aqui cheguei, em plena ditadura. O Senado piorou ao longo do tempo.

Esta reforma que tramita na Câmara dos Deputados pode resgatar o respeito e a ética na política?

Simon – É tudo pura enganação. Os políticos têm medo de novos atos moralizadores da Justiça Eleitoral, que podem dificultar a vida dos candidatos. Não vejo nenhuma sinceridade nesta suposta ‘reforma política’.


O que precisa ser feito para que as coisas da política entrem nos eixos?

Simon As mudanças precisam atingir os três Poderes da República. A desmoralização do Congresso começa no Poder Executivo, com as Medidas Provisórias que imobilizam e degradam o Senado Federal e a Câmara dos Deputados. Para surpresa geral, a profunda aproximação entre o presidente Lula e o presidente Sarney não trouxe nenhuma dignidade, muito menos ética para a política brasileira.


O senhor concorda com as medidas econômicas adotadas pelo Governo Lula para combater a crise?

Simon Acho que, neste aspecto, o presidente Lula está indo muito bem.


A que se deve atribuir os altos índices de violência que assolam o país de norte a sul?

Simon - A causa primeira é a impunidade. Estes índices também têm a ver com a educação e a desigualdade social. Mas tudo começa pela impunidade, que dá a todos o mau exemplo de que o crime, no Brasil, não é punido.


O senhor pretende disputar o governo do Rio Grande do Sul em 2010?

Simon - A decisão de não me candidatar mais já foi tomada. Eu tenho uma vontade imensa de ir pra casa. Não vejo mais o que possa fazer por aqui.


Apesar disso tudo, o Sr. acredita que o Brasil tem jeito?

Simon - O Brasil será a grande nação do mundo nos próximos 20 anos. O povo brasileiro é um grande povo. A pátria brasileira é muito rica. Temos a maior extensão de terras agricultáveis no mundo, a maior quantidade de água doce do planeta, as maiores reservas de petróleo, a maior capacidade de produção de fontes alternativas de energia. O grande problema do Brasil é que o país tem uma péssima elite política. O meu consolo é que o povo brasileiro, se for necessário, vai passar por cima dessa gente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários desta página serão revisados. Não será permitidos palavrões e xingamentos. Comente com responsabilidade mais sem ofender.